26 de abril de 2008

Inefável

queria falar sobre a pedra ou o pássaro
queria me deter na janela a contemplar
algo verdadeiramente intangível,
algo que não me escutasse,
que não pudesse rebater meu ácido,
queria debruçar-me sobre o inofensivo,
sobre a impotência abstrata dos seres,
caçoar das telhas e grades,
arrancar-lhes os sentimentos...
nesse momento dois bêbados cruzam a rua
travam um embriagado embate...
não consigo discernir suas palavras,
mas em algum momento escuto algo sobre futebol
ou política, acho que os dois...
eles param um instante
olham um para o outro e cambaleantes
gesticulam agressões
pelo tom da conversa presumo que se agridem
também nas palavras
pateticamente caem e se embolam esgoto a dentro...

volto minha atenção às pedras!

queria escrever sobre algo humilhantemente inatingível...

3 comentários:

danilo disse...

caro amigo, sua poesia é visceral, é coisa que parte de dentro do peito, das dores da alma. É até meio simbolista, um simbolismo pós-moderno, nem sei se tô falando besteira, mas é boa paca... leio você aqui e seus postados no overmundo. É isso aái, poeta, você é grande!

José Augusto Couto Sampaio Neto disse...

bonita poesia, diferente de outras q ja li sua....uma forma nova....bonita mesmo...

Adrianna Coelho disse...

seu poema é lindo...
duramente lindo
da realidade embriagada vc fez poesia...

gostei de ler por aqui!

uma abração